quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Exposição de escultura em Sobral de Monte Agraço



Inaugura no dia 16, pelas 18 horas, a minha primeira exposição individual intitulada Fragmentos. Apareçam!


Texto de Raquel Melo

São corpos as formas que dominam o trabalho de Sérgio Reis. Num primeiro impacto o trabalho deste escultor impõe, obriga-nos a olhar com um outro olhar, mais profundo, mais humano. Ele procura um lugar para um novo corpo, nesta era de imagens corporais massificadas e estetizadas. Dessa procura, fazem parte a depuração e a maceração do real. Essa dimensão artística do corpo em que se abre espaço a uma maior relação com o espectador, permitindo que ele próprio faça as suas interpretações e as suas sensações racionais em relação à escultura.
Os corpos que Sérgio Reis fabrica são sem dúvida obtidos através de um processo complexo e estruturado mas não são explicitamente os corpos em si que passam por esse processo mas sim o seu conceito. Nesse processo a massa escultórica na sua relação como o espaço e o espectador abre o corpo a novas ligações simbólicas. Para além da confusão da realidade, no seu trabalho é alcançado um estado de consciência que está para além da materialidade do corpo, um corpo que procura a sua capacidade de potencial, para se tornar passível de adquirir novas formas e criar novas agenciações entre conceitos, entre planos, criando novas sensações, novas mitologias, novas fabulações.
Sérgio Reis mostra-nos corpos que não são definidos unicamente pelo organicismo mas por algo mais indefinido, longe do conceito imediato e redutor de uma simples corporalidade. Nessa sua materialidade que é assumida e explícita, estes corpos estão para além da identidade e da realidade física. São definidos por conceitos, por conjuntos de afectos intensivos, pela sua capacidade para alcançar muito mais para além da sua forma material, por aquilo que consegue agenciar, emoções, conceitos, sentimentos, pela sua capacidade de transcender. O seu trabalho cria novas relações do corpo para construir um plano mais abrangente em que possam em que estas possam desenvolver-se, criar-se e fluir intensidades diversas, interligar-se e interceptar-se com outros planos. É por isso que no seu processo de procura de um trabalho artístico sólido o seu trabalho consegue interligar, interagir, criar fluxos e refluxos de diferentes intensidades entre planos tão profundos e tão abrangentes. Se considerarmos o corpo como um plano, ele está a torná-lo num plano que consegue abranger muitos mais planos de conceitos, porque abre esse plano a novas relações simbólicas, sensoriais, sentimentais, compondo novas relações conceptuais do corpo com o que o rodeia. É um plano que ele expande para novos espaços e tempos. Ao captar fragmentos do real, mas um real cheio de intensidades corporais, nos fragmentos de corpos e identidades, de momentos de intensidades diversas e dispersas que se apresentam no espaço. Os seus corpos estão repletos de corporalidade, de intensidade, de energias. Demonstram-nos a corporalidade do corpo assim como a sua humanidade. Os seus corpos não são máquinas, não são insensíveis, não são simples formas estáticas. Por eles percorre energia, afectos, intensidades, eles procuram um modo de resistência aos poderes que os constrangem.

Free Hit Counter
Free Counter